Mamãe, você trouxe aquela minha boneca que tem uma bicicleta?
E aquela fantasia da Frozen?
E o meu boneco do Homem de Ferro? E o meu álbum da Copa?
Mamãe, eu tô com saudades dos meus amigos, dos meus primos, do vovô, das vovós...
Aiiii que saudades da farofa de banana da Nansi!
Tô com saudade da minha escola lá “di Brasil”.
Perguntas e afirmações que escuto das crianças e boa parte das respostas tem sido:
Não trouxe.
Não cabia na mala.
Deixei na casa dos seus avós.
Doei para outra criança.
Também sinto muita saudade!
Dia 15 de fevereiro completo um semestre na Itália. Lembro o quanto foi difícil fazer as malas. Decidir o que seria conveniente trazer ou não.
Segui algumas dicas de colegas, da família e de imigrantes mais experientes que orientam nas redes sociais o que é imprescindível em uma mudança de país. Agora, me sentindo um pouco mais acomodada na nova moradia, faço um breve balanço do que acertei e errei (bastante) depois de fechar as malas.
A cada nova pergunta que as crianças me fazem (de repente e do nada) sobre o que ficou no Brasil, percebo que negligenciei um pouco a expertise infantil. No caso da Marina, não imaginei que quatro anos seria tempo suficiente para uma criança construir uma memória de elefante como a dela.
Mudar para outro lugar não é sobre fazer as malas. É sobre ganhos e perdas que não conseguimos prever e nem mensurar direito.
O próprio verbo mudar também se transforma em um substantivo feminino: mudança. E quando me refiro à mudança não é só de localização geográfica. É sobre tudo aquilo que nos faz mover: pensamentos, vontades, sonhos, família, trabalho, relacionamentos, amizades, filhos, alegrias, decepções e por aí vai.
Sendo verbo ou substantivo, não importa, para mim mudar sempre será uma palavra carregada de expectativa, sonho, vontade, medo, insegurança e aprendizado, independentemente de onde e como eu empregá-la na minha vida.
Hoje vejo que seis meses passaram rápido, porque os três primeiros duraram quase uma eternidade, com altos e baixos, cheios de uma ansiedade interna descabida para aprender, ter respostas e me adaptar.
Posso dizer que comecei a encarar os três primeiros meses como um bom período para todo e qualquer tipo de adaptação, seja em um novo trabalho, projeto, moradia, viagem ou curso, por exemplo. Um tempo ideal para quem deseja conhecer, experimentar, arriscar e aprender.
É como dar uma chance para ver o que e como será depois. No próximo trimestre a gente avalia o que valeu a pena ou não no primeiro. Como as empresas fazem (ou deveriam fazer) e como nós fazemos (ou deveríamos também).
No geral, o saldo do meu primeiro semestre na Itália tem sido positivo, até mesmo com os perrengues que naturalmente apareceram no caminho e não cabem nos feeds ou nos stories.
Quanto aos questionamentos e afirmações das crianças, aos poucos eles estão ocupando outros espaços:
Tô com saudade de ir no Parco Giotto!
Vamos no Carnaval hoje, mamãe?
Vamos brincar no Magnifico?
Hoje tem sol, dá para ir no parquinho, né?
Esse coração (croissant) tá maravilhoso!
Eu amei esse lugar mamãe!
A saudade “di Brasil” continua, é imensa e está no pacote da mudança. Mas, confesso, o país da bota já conquistou meu coração.
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Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
Mamãe!!! Sabe o que eu sonhei hoje?
O que Marina?
Que eu estava assim, ó, de biquíni.
(mostrou o pijama como se fosse a camisa UV Line para proteger do sol)
Você está com saudades de tomar banho de piscina no Brasil?
Sim…
Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
Compartilho hoje um livro que estou usando para complementar meus estudos no idioma italiano.
Bem ilustrativo e didático para o nível básico. O único problema é que este ainda está na versão CD para as atividades de áudio. Fora isso, tem sido bem interessante aprender com ele também.
Aleatoriedade
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você.
Universitário britânico celebra formatura aos 95 anos (link). Uma notícia bem inspiradora!
“Pobres criaturas”: a jornada de Bella Baxter de criatura à criadora (link). Estou super curiosa para assistir a este filme. Mas evitando ler muito sobre. Gosto de ver os filmes com o copo vazio. Depois pesquiso o que disseram sobre.
Influenciadores genuínos: genuinfluencers (link). O que são? Torcendo aqui para a palavra nova não ser demasiadamente usada e se tornar mais um “lugar comum” entre tantas que vemos por aí.
Você também pode me encontrar no:
Lembro que me senti verdadeiramente em casa, em Cuiabá, quando encontrei na rua, uma pessoa de meu círculo de amizades que não era amiga do marido (que era a referência das pessoas que eu conheci quando vim para cá). Pensei: Nossa, alguém que eu conheço que não o conhece... meu amigo!