Não saber sempre o que escrever semanalmente é parte do processo que tenho com esta newsletter.
Criei este espaço com o objetivo de desviar o foco da pressão dos algoritmos das redes sociais, mas (ironicamente) em algumas edições a ansiedade tomou conta de mim quando não sabia exatamente o que escrever aqui.
Mas fiz o compromisso (uma palavra valiosa) e vou cumpri-lo. Prometi entregar por e-mail um material que inclua o que vejo, penso, vivo e pesquiso sobre escrita, comunicação, literatura, arte e meu viver na Itália - não necessariamente nesta ordem - e cá estou mais uma vez, sem saber o rumo que este texto vai levar.
Por enquanto só tenho a certeza do "quando" entregar este e-mail na sua caixa de entrada: toda terça-feira.
Coincidentemente (ou não) na semana em que parei para pensar nos meus processos criativos para escrever, armazenar ideias, conteúdos, inspirações, vontades e anotações, participei de um workshop online sobre "Ferramentas para sair do bloqueio criativo", com o
do @tira.do.papel.Ele trabalha com projetos e produções de conteúdos, cujo foco é trazer ideias e nos instigar a pensar (e agir) em caminhos possíveis para viver uma vida mais criativa e intencional.
Identifiquei nele um diferencial interessante: não traz fórmulas e nem "dicas infalíveis" para ser mais criativo ou nunca ter bloqueios de criatividade - porque de receitas prontas e promessas milionárias para se dar bem na internet e de forma rápida estamos fartos, cansados e desconfiados.
Conheci o Tira do Papel em meados de 2021, provavelmente porque eu buscava algo com a palavra criatividade e o algoritmo decidiu ser bem camarada comigo e me entregou alguns de seus conteúdos.
Logo no início do workshop, feito a convite do
no Clube Passageiro, Tiago falou sobre um comportamento comum e que, naturalmente, eu já havia notado em mim e em várias pessoas próximas do meu convívio pessoal e profissional.As maiores travas criativas das pessoas não são técnicas ou "ferramentais". Estão mais associadas à síndrome do impostor, medo do julgamento e sensação de não merecimento.
Temos tantas ideias boas, mas nem sempre acreditamos que elas podem nos levar a lugares, situações, pessoas e oportunidades inimagináveis.
Conforme ele falava, um filme se abriu em uma nova aba no meu notebook. Era como se eu estivesse vendo cenas das várias ideias (boas e ruins) que já tive. Algumas concretizei, outras tantas eliminei, escondi, guardei, me envergonhei e esqueci em algum lugar.
Uma das cenas desse meu filme paralelo quero compartilhar com vocês.
Eu anoto tudo!
Anoto porque aprendi a não confiar 100% na minha memória. Posso até demorar anos para ler de volta o que anotei, mas num primeiro momento as ideias e as palavras vão morar em algum papel. Depois vejo qual destino dar a elas.
Na arrumação da pré-mudança para a Itália, entre as limpezas, descartes e decisões do que trazer para cá e o que guardar no Brasil, encontrei várias anotações que fiz há mais de cinco anos. Ao reler boa parte delas, entendi o quanto as palavras, frases soltas, pequenos ou grandes trechos que escrevi fizeram sentido para a época e muitas delas só compreendi agora. Algumas dessas anotações, inclusive, consegui tirá-las do papel anos depois.
Foi aí que percebi também o poder da intenção. Ela sai do coração, sobe para o cérebro, escorre pelo braço, chega até a mão, segura uma caneta e anota num papel.
Escrever uma ideia ou começar um texto no papel significa colocar a intenção em primeiro lugar. É como se a gente fizesse um compromisso pessoal com aquelas palavras ali, independentemente da síndrome do impostor, medo do julgamento e sensação de não merecimento - o que para mim fez todo sentido na frase introdutória do Tiago no workshop.
Ele ensina como tirar as ideias do papel. Mas, antes disso, seu processo criativo também inclui fazer o exercício de colocá-las no papel em primeiro lugar.
E nessa prática, execução, ação (qualquer que seja a palavra usada para indicar movimento) existe no meio do caminho o maravilhoso processo - que muitos de nós ainda insistimos em não valorizar.
Tiago sugere desenvolvermos sistemas (próprios) para proteger os processos criativos dos bloqueios.
Nas sugestões apresentadas, associei outra "ferramenta" super importante que podemos utilizar mais vezes para perceber onde estão nossos próprios bloqueios criativos: o autoconhecimento.
Outra percepção interessante é que no processo de execução de uma ideia, por exemplo, é comum recebermos a visita do "caos". Ele nos incomoda (bastante). Lembra aquele intruso, inconveniente, que chegou sem nenhum sinal de convite. Mas não!
O "caos", que até então eu encarava como um defeito e um grande problema, no processo criativo é extremamente bem-vindo! Só não pode durar tempo demais, é claro. Devemos deixá-lo vir, aprender com ele e depois organizá-lo com as ferramentas que temos mais familiaridade.
É no caos de não saber sempre e de não ter tanta certeza sobre o que escrever aqui, por exemplo, de rabiscar mil vezes, colocar palavras sem ordem e aparentemente sem nenhum sentido no papel que compreendi o funcionamento do meu processo criativo antes, durante e pós-escrita de um texto.
Descobri que é relativamente simples.
Preciso ter por perto um papel e uma caneta, porque no celular não consigo digitar com a mesma velocidade que tenho no ato de escrever à mão. Atribuo essa "habilidade" aos anos de escrita no jornalismo que me renderam a oportunidade de contar boas histórias, mas também uma caligrafia desastrosa.
Até pegar o celular, destravar a senha, abrir o app de notas e as mil e uma notificações pipocarem na tela durante esse percurso, crianças gritando, pedindo lanche, correndo, pulando, etc, perco detalhes da frase, palavra e ideia que surgem espontaneamente. Então, entendi e aceitei que o papel e a caneta ainda funcionam muito bem para mim.
Além de perceber melhor como funciona o meu processo de escrita, compreendi que não saber (sempre) o que escrever TAMBÉM É BOM!
As únicas certezas são o meu compromisso com "o quando" e a vontade de continuar com este projeto pessoal, mesmo sem saber ao certo aonde ele pode me levar.
Agradeço a você que inseriu o seu e-mail aqui! Sua simples ação fortalece a minha esperança de que as palavras, unidas em texto, ainda contam muito.
Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
Mamãe, para que serve a casca da banana?
Para proteger a fruta de insetos e de tombos.
Como o super-herói?
É…, quase isso Marina.
Não mamãe! É só uma casca!
Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
Indico o pefil da nonna italiana Silvana Bini aqui no instagram que minha colega, Carol, compartilhou comigo dia desses.
Adorei! Não para eu aprender a cozinhar, obviamente (quem me conhece sabe que não gosto de cozinhar e tive a sorte de me casar com um cozinheiro ❤️ de mão cheia), mas é um perfil legal para escutar o idioma.
Ah, detalhe, ela tem só mais de 2 milhões de seguidores! Só isso, gente.
Aleatoriedade
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você.
Links de alguns livros para quem quer explorar mais o universo da escrita. Super recomendo!
Como se encontrar na escrita, Ana Holanda.
O caminho do artista: Desperte o seu potencial criativo e rompa seus bloqueios, Julia Cameron.
Sobre a escrita: A arte em memórias, Stephen K.
A arte de escrever ensinada em 20 lições, Antoine Albalat.
✉ → Edições anteriores da newsletter “Onde a palavra mora” (aqui).
Perfeito, Camila.