“Per conoscere una nuova lingua, per immergersi, si deve lasciare la sponda. Senza salvagente. Senza poter contare sulla terraferma”.
In Altre Parole, de Jhumpa Lahiri.
Jhumpa Lahiri era uma jovem recém-formada quando visitou Florença, na Itália, pela primeira vez. Logo que escutou o idioma italiano, sentiu que era uma língua estranhamente familiar e foi tomada por um desejo enorme de aprendê-la.
O livro In altre parole, publicado em 2015, é um testemunho bem pessoal da escritora, de origem indiana, sobre a descoberta e aprendizagem do italiano. Foi a primeira obra da autora escrita inteiramente no idioma, ou seja, num período em que nem sabíamos o que era a IA generativa para auxiliá-la na tradução.
Encontrei a obra graças ao algoritmo, porque a sugestão apareceu para mim nas redes sociais durante minhas buscas por indicações de livros para ler em italiano. Estou encantada com a forma simples e sincera da autora ao descrever todo seu percurso para aprender essa língua.
Somente depois de entrar na quarta livraria de Arezzo, consegui encontrar o livro. Não tem a versão kindle na Amazon, mas você pode escutar a obra completa em italiano neste audiolivro:
Selecionei abaixo o primeiro texto do livro onde Jhumpa Lahiri usa a metáfora da travessia de um lago para explicar o que foi para ela aprender o italiano.
É uma história linda e inspiradora. Recomendo muitíssimo para quem (como eu) ainda está nas margens do mesmo lago, agarrada ao colete salva-vidas, e bem no início da travessia.
A travessia*
Quero atravessar um pequeno lago. É realmente pequeno, e ainda assim, a outra margem me parece distante demais, além das minhas capacidades. Sei que o lago é muito profundo no meio, e mesmo sabendo nadar, tenho medo de me encontrar na água sozinha, sem nenhum apoio.
O lago de que falo fica em um lugar afastado, isolado. Para alcançá-lo, é preciso caminhar um pouco, através de uma floresta silenciosa. Do outro lado, vê-se uma casinha, a única habitação na margem. O lago se formou logo após a última glaciação, há milênios. A água é limpa, mas escura, sem correntes, mais pesada do que a água salgada. Depois de entrar na água, a alguns metros da margem, não se vê mais o fundo.
De manhã, observo aqueles que vêm ao lago como eu. Vejo como atravessam de maneira despreocupada e relaxada, como param por alguns minutos em frente à casinha e depois voltam. Conto suas braçadas. Os invejo.
Por um mês, nado em círculos, sem me afastar muito. É uma distância muito mais significativa, a circunferência em relação ao diâmetro. Levo mais de meia hora para completar essa volta. Mas estou sempre perto da margem. Posso parar, posso ficar de pé se me cansar. Um bom exercício, mas certamente não emocionante.
Então, uma manhã, perto do fim do verão, encontro-me lá com dois amigos. Decidi atravessar o lago com eles, para finalmente chegar à casinha do outro lado. Estou cansada de apenas contornar a margem.
Conto as braçadas. Sei que meus companheiros estão na água comigo, mas sei que estamos sozinhos. Após cerca de cento e cinquenta braçadas, já estou no meio, na parte mais profunda. Continuo. Após mais cem, vejo o fundo novamente.
Chego do outro lado, consegui sem problemas. Vejo a casinha, até agora distante, a poucos passos de mim. Vejo as pequenas e distantes silhuetas do meu marido e dos meus filhos. Parecem inatingíveis, mas sei que não são. Após uma travessia, a margem conhecida se torna o lado oposto: de cá se torna de lá. Cheia de energia, atravesso o lago novamente. Vibro de alegria.
Por vinte anos, estudei a língua italiana como se nadasse ao longo das margens daquele lago. Sempre ao lado da minha língua dominante, o inglês. Sempre a acompanhando. Foi um bom exercício. Benéfico para os músculos, para o cérebro, mas certamente não emocionante. Estudando uma língua estrangeira dessa forma, não se pode afogar. A outra língua está sempre ali para te sustentar, para te salvar. Mas não basta flutuar sem a possibilidade de se afogar, de afundar. Para conhecer uma nova língua, para se imergir, é preciso deixar a margem. Sem colete salva-vidas. Sem poder contar com a terra firme.
Algumas semanas depois de atravessar o pequeno lago escondido, faço uma segunda travessia. Muito mais longa, mas nada cansativa. Será a primeira verdadeira partida da minha vida. Desta vez de navio, através do oceano Atlântico, para viver na Itália.
(*um dos textos do livro, traduzido com ajuda do chatgpt)
(para saber mais sobre a escritora, coloquei alguns links na parte “Descobertas da semana”)
🌱 Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
Mamãe, eu te amo! Mesmo quando você fica brava.
Marina
🔎 Descobertas da semana
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você.
Para saber um pouco mais sobre a escritora que destaquei na edição de hoje:
→Quem é Jhumpa Lahiri.
→Uma entrevista bem interessante sobre a história e obras da escritora.
→Uma carta lindíssima da Jhumpa para a Helena Ferrante e que me fez querer ler mais ainda as obras das duas autoras.
→ Todo estudante de italiano deveria ler este livro, um vídeo da professora Lucrezia recomendando In altre parole.
→ Interprete de males, um livro de contos da Jhumpa Lahiri e que já está na minha lista infinita de desejos de leitura.
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Camila Tardin
Delícia de reflexão, Camila.