Verdades sobre o Pinóquio
Edição #30 | Encontradas apenas na versão original de 1881.
"Pinocchio" foi um dos primeiros livros infantis em italiano que comprei para as crianças na Itália. Encontrei este (da foto acima) em uma feira agrícola que aconteceu aqui em Arezzo em novembro do ano passado - o que para mim foi uma grande surpresa ver livros novos e usados sendo comercializados dentro de um evento “agro”.
Mesmo sabendo a história desde a minha infância e lendo-a para as crianças no Brasil, usei a Inteligência Artificial (IA) para me auxiliar nas traduções de algumas palavras. Inicialmente, minha leitura era lenta, cheia de pausas, respirações e que, às vezes, cansava tanto a mim quanto às crianças. Aos poucos, com o tempo, consegui melhorar o ritmo de leitura e compreensão das palavras.
Recentemente, pela indicação de uma colega que mora na Itália há mais tempo, conheci um podcast interessante com indicações de literatura e da cultura italiana, ensinadas pela professora Linda Riolo (comentei dela na edição #28).
Nos episódios 118 e 119, Linda compartilha “A verdadeira história de Pinóquio”, que eu, particularmente, desconhecia e fiquei um tanto surpresa.
"As Aventuras de Pinóquio: História de um Boneco" não surgiu como um romance, mas sim como uma história em capítulos publicada pela primeira vez em 1881 no periódico italiano "Giornale dei bambini" pelo escritor e jornalista florentino, Carlo Lorenzini, conhecido pelo pseudônimo de Carlo Collodi.
A história original tem vários elementos fantásticos que caracterizam o gênero do conto de fadas, como animais que falam e magia. O autor insere lições de moral sobre as dificuldades e as recompensas do crescimento, responsabilidade e moralidade, assim como na versão Disney que, até então, era a única que eu conhecia. Uma característica comum é o caráter impulsivo e desobediente do Pinóquio e suas consequências, que também fazem parte da narrativa.
A diferença entre a história que conhecemos hoje (contada pela Dinsey e nos livros atuais) em relação à narrativa original está em alguns elementos sombrios e situações perigosas pelas quais Pinóquio e Geppeto, o pai e criador do boneco, passam na versão de 1881. Em um dos capítulos, por exemplo, Pinóquio é enforcado por seus erros e quase morre, mas é resgatado pela Fada Azul. Outro episódio diferente é quando Geppetto é levado para a prisão por uma mentira contada por Pinóquio aos carabinieri (policiais).
O Grilo Falante, que nos filmes é um personagem bem presente e representa a “consciência” do Pinóquio, na narrativa original é um animal sem um papel central e, inclusive, tem um fim bem trágico, como conta Linda Riolo no podcast.
Depois da prisão do pai, Pinóquio volta para casa sem nenhum arrependimento por seu gesto. Na casa de Geppetto vive, há mais de cem anos, o Grilo Falante.
O animal começa a repreendê-lo: diz que as crianças que fogem dos pais não terão nada de bom e que, se não estudar ou trabalhar, acabará no hospital ou na prisão. Então, Pinóquio, furioso com as palavras do grilo, pega um martelo e bum, lança na cabeça dele. Sem querer, o mata. Sim, adeus grilo, tchau tchau.
No livro, Collodi escreveu assim: "teve apenas fôlego para fazer cri-cri-cri e depois ficou lá morto e pregado na parede".
A versão da Disney, lançada em 1940, suaviza e modifica várias partes do conto original (que você pode saber mais na curadoria de links logo abaixo). É mais leve e enfatiza a aventura e a mágica da transformação do boneco de madeira em um menino de verdade. Particularmente, gosto da versão atual, mas adorei descobrir a história verdadeira, com suas diferentes nuances, possibilidades de interpreações e significados.
Fico por aqui, com aquela curiosidade em saber como as crianças e os adultos lá de 1881 receberam a história do Pinóquio, que para a época foi considerada um grande sucesso e segue sendo até hoje, mesmo com as modificações.
Se você quiser saber mais, abaixo trago algumas informações:
→Episódios 118 e 119 do podcast Pensiere e Parole, de Linda Riolo falam sobre o Pinóquio. Segue o site dela com mais informações sobre literatura e cultura italiana também: Picolo Mondo Italiano.
→Este texto “The Real Story of Pinocchio Tells No Lies” é bem interessante e detalhado sobre a vida e obra de Carlo Collodi. Tradução: “A verdadeira história de Pinóquio não conta mentiras. Esqueça o que você sabe do desenho animado. A história do século XIX, agora em uma nova tradução, foi um grito de guerra pela educação universal e pela nacionalidade italiana”
→ The Adventures of Pinocchio, do Wikipedia.
→ The Adventures of Pinocchio, da Britannica.
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🔎 Descobertas da semana
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→ A OpenAI desenvolveu um sistema de marca d’água para identificar textos gerados por suas ferramentas. Aqui tem informações sobre essa tecnologia, suas implicações, desafios e a divisão interna da empresa sobre sua implementação.
→ Aqui trago dicas de sites e ferramentas de revisão de texto para salvar na sua barra de favoritos.
→ O filme Ainda estou aqui, do diretor brasileiro Walter Salles, foi selecionado para a competição principal do Festival de Cinema de Veneza. E tem no elenco a atriz que sou fã: Fernanda Torres.
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Obrigada pela leitura! Espero que esta edição te leve a algum lugar.
Era para ter saído na terça-feira (meu combinado com você), mas as férias escolares, o trabalho, a rotina doméstica, etc, ocuparam espaços maiores na minha agenda. Obrigada pela compreensão.
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Até a próxima ;)
Abraço!
Camila Tardin
Que bacana Camila! Eu sempre fui apaixonada pela história do Pinóquio e na minha temporada na Itália também tive a alegria de descobrir mais coisas sobre ele! Trouxe muitas lembranças e alguns itens. Tem um episódio incrível da professora Lúcia Helena da escola Nova Acrópole que fala da parte filosófica e simbólica do boneco de madeira mais amado de todos. Recomendo demais. Adorei as suas sugestões e vou procurar.
Tive poucas chances de conhecer as histórias infantis, meu tempo de criança / adolescente, é ótimo ter a oportunidade de hoje conhecer hoje as belezas da verdade da cultura do "tempo antigo".