Estive ausente nas últimas semanas por uma boa razão: estava de férias! Uma pausa desejada e merecida!
Pensei que daria conta de seguir com a newsletter, mas a vontade de desacelerar em tudo falou mais alto. Como este é um espaço onde valorizo a liberdade de escrever sem pressões (especialmente as minhas internas), lembrei-me de que ações sem propósito não fazem parte deste projeto pessoal, portanto, a pausa foi necessária para mim.
Escrevi pouco, mas aproveitei para ler bastante. Concluí a leitura de um livro que vinha adiando há um bom tempo: o primeiro volume da tetralogia napolitana A amiga genial (L’amiga geniale), da escritora italiana de pseudônimo Elena Ferrante.
Terminei a leitura semana passada com um desejo enorme de começar o segundo volume desse romance de formação, acompanhada de pensamentos e questionamentos que se instalaram na minha cabeça conforme avançava nos capítulos:
Como pude demorar tanto tempo para ler este livro? Foi lançado em 2011. Onde eu estava?
Teria sido diferente lê-lo naquele ano e agora que moro aqui na Itália, onde se passa a história?
Agora entendo o porquê da tal "febre ferrante", como ficou conhecido o período de lançamento da tetralogia, de 2011 a 2014.
Agora entendo por que a obra virou série audiovisual na HBO (ainda não assisti, mas pretendo vê-la após terminar a leitura).
Agora entendo por que está na lista dos 100 melhores livros do século XXI, segundo publicação recente do jornal The New York Times.
Agora entendo por que tanta gente pesquisa, fala, pensa, conversa e debate sobre as obras da escritora Elena Ferrante, cuja identidade verdadeira é um mistério.
Agora (até) entendo por que demorei tanto para começar este livro. Era para ser aqui mesmo, na Itália.
Meu primeiro contato com a Ferrante foi em 2022, quando li "A filha perdida". Lembro de ter ficado algumas semanas bem pensativa e sem vontade de emendar qualquer outra leitura de imediato. Digerindo o tanto que o livro me impactou, por trazer aspectos invisíveis da maternidade. Consciente ou não, temi me tornar ainda mais reflexiva ao ler a tetralogia logo em seguida, até porque 2022 foi um ano bem desafiador para mim.
A amiga genial é uma obra muito envolvente! Daquelas que começamos, e não queremos parar de ler. Ou decidimos ir devagar, só para ter o prazer de continuar. Difícil descrever o tanto que gostei da história, dos personagens e da cidade de Nápoles, mesmo sem ainda conhecê-la.
As protagonistas Lenu (Elena Greco) e Lila (Raffaella Cerullo) construíram uma amizade desde a infância e a narrativa traz a trajetória desta amizade que durou até a velhice de ambas. A relação entre as duas é carregada de ambivalência e a história também tem como personagem a cidade de Nápoles, com suas particularidades no período pós-Segunda Guerra Mundial.
A obra traz momentos de afastamento e de aproximação entre Lila e Lenu, de competições, situações de inveja e, ao mesmo tempo, parceria, cumplicidade e lealdade. Elas têm semelhanças e diferenças na trajetória educacional, personalidade, origem social, inteligência, ambição e visão de mundo. Temos a impressão de que uma completa o que falta na outra.
A sinceridade da narradora Lenu, que decide escrever sobre a história dessa amizade após o sumiço de Lila, é o que nos prende na leitura do começo ao fim. O primeiro volume apresenta a infância e a adolescência das duas, com uma riqueza belíssima de detalhes.
A autora Elena Ferrante escreve de uma forma simples e familiar, os sentimentos com os quais nos identificamos e nem sempre conseguimos expressar ou entender. Por exemplo, os momentos de competição feminina entre Lila e Lenu me trouxe à memória situações vividas com minhas irmãs, amigas de escola e colegas de trabalho. É impossível não se reconhecer entre as personagens, às vezes como Lenu, outras vezes como Lila.
Em comum, as duas gostam de estudar e ler. Sonham em ser escritoras desde a infância. Mas Lila não teve a mesma sorte que Lenu em relação à continuidade dos estudos - o que torna decisivo no destino delas.
Ambas as personagens conquistaram minha simpatia, cada qual com suas particularidades. Em cada página, torcia pelas duas. Agora torço para que você não demore tanto como eu para ler esse livro também.
Posso dizer que A amiga genial marcou o meu primeiro verão (completo) aqui na Itália. Sigo ansiosa para o segundo volume, “História do novo sobrenome” (Storia del nuovo cognome). Depois te conto o que achei.
*Em "Descobertas da semana" trago alguns links sobre a obra e a escritora para você se inspirar e começar a ler.
🌱 Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
Primeira vez das crianças no mar.
Marina, o que você mais gostou da praia?
Olha mamãe, o que eu mais gostei da praia foi de tudo.
📚 Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
Este site italiano tem um Dicionário Biográfico das Mulheres que fazem parte das celebrações do 150° aniversário da Unificação da Itália. Elas contribuíram para a história do país, desde a unificação até os dias atuais. Bem interessante!
🔎 Descobertas da semana
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você.
Resultado das minhas buscas sobre a Elena Ferrante e a tetralogia A amiga genial. Tem muita coisa disponível na internet para quem quer se aprofundar mais.
(link) Afinal, quem é Elena Ferrante?
(link) Um audiobook da obra completa.
(link) Em livro, Fabiane Secches analisa a ausência na obra de Elena Ferrante.
(link) Cinco motivos para assistir à série Amiga genial.
(link) Uma longa e conflituosa amizade.
(link) ‘A amiga genial’, de Elena Ferrante, é eleito melhor livro do século pelo New York Times; veja top 10.
(link) Uma ótima resenha sobre a tetralogia, escrita pela jornalista Gabriela Mayer.
(link) A escritora Isabela Discacciati publicou recentemente o livro ‘Para além das margens - A Itália de Elena Ferrante’. Já está no meu radar.
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Obrigada pela leitura! Espero que esta edição te leve a algum lugar.
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Até a próxima ;)
Abraço!
Camila Tardin
Duas coisas me pegaram no seu texto. Uma, que já li este livro anos atrás, e não lembro de ter ficado tão tocada assim, mas em compensação em Dias de Abandono, dela também, sofri muito com o livro. A segunda é remoer um livro e não começar outro para ruminá-lo até digerir completamente o conteúdo. Nunca fiz nada parecido (quando um livro mexe comigo, começo outro de estilo totalmente contrário para não perder o sentimento, só nunca fiquei sem ler) e acredito que eu estou precisando dar um tempo entre leituras assim (já leu "Tempo entre Costuras" (muito bom)? mas como fazer???): estou participando de dois clubes do livro (já são dois no mês), o curso que estou participando toda semana indicam alguns títulos; o meu clube que vai acontecer dia 20/08, as newsletters que recebo, e mais todo o material que sem querer querendo (como diria o Chaves) leio diariamente... estou precisando é ir para a praia e ficar torrando no sol (sem livro) acompanhando o ir e vir do branco, do transparente, do azul do mar.
Ah, lembrei que estou em outro grupo de crônicas e poesias, mas este não discuto os livros porque o horário bate com o do curso, só leio...
Se tem um livro que combine com verão, é este! Você gostou de Grosseto? Ontem mesmo li uma matéria na BBC Travel sobre como esta região foi de esnobada para ganhadora de prêmios de turismo responsável. Salvei para ir um dia ❤️