Estava escovando os dentes e, ao mesmo tempo, pensando: não tenho ideia do que escrever na newsletter. O 15° dia chegou, estou atrasada, sem o tema principal, sem um título, sem nada.
Chacoalhei a água na boca, levantei a cabeça e a palavra que vi no espelho foi: propósito. A mesma que me incomodou lá em dezembro de 2018, pelo excesso do que lia, escutava e consumia de informação, e resultou na crônica A ânsia do propósito, publicada em janeiro de 2019, no Jornal A Gazeta, de Cuiabá-MT.
Janeiro de 2025 está pertinho, mais um ano novo se aproxima e o “propósito” gosta de dar as caras em meados de novembro e dezembro - período bom para avaliar o que nos propomos a fazer em 2024 (e conseguimos concretizar), além de planejar os desejos para o próximo ano.
Recordo com exatidão onde eu estava quando comecei a rabiscar minha ansiedade com essa palavra lá no final de 2018: em uma assembleia geral de produtores rurais.
O dia estava bem quente e a sala de reuniões parecia um gelo para dar conta dos 35 graus lá de fora. Meu corpo estava gelado, mas o cérebro fervia com o esforço que fazia para me concentrar na reunião.
Enquanto aguardava o “gancho” ideal para escrever o texto do resultado da assembleia, peguei o caderno e rabisquei algumas frases soltas, perguntas do tipo: qual era o meu propósito ali naquele dia? Qual era o propósito daquela reunião?
Avancei mais um pouco:
Qual era o meu propósito para o novo ano?
Por que a palavra propósito está me incomodando tanto?
Então, veio a ansiedade, porque as respostas não surgiram com a rapidez que eu desejava. Curiosamente, eu já estava grávida da Marina e nem sabia. Também não sabia (assim como o mundo inteiro) que no ano seguinte ao de 2019 teríamos uma pandemia.
Assim nasceu aquele texto. De vez em quando eu o revisito para me lembrar do compromisso que fiz comigo e, às vezes (ou quase sempre), me esqueço.
Tenho vontade de ajustá-lo, trocar palavras, usar sinônimos, ou até eliminar algumas frases - comportamento típico de uma “quase ex-perfeccionista” em evolução - mas deixo passar, porque aquele texto ficou como precisava ficar naquele dia.
Não importa onde estamos, com quem e o que fazemos, essa busca pelo propósito, do que faz sentido e de como pertencer não tem fronteiras, idioma, cultura, raça, gênero, idade ou tempo. O problema é focar demais no lá, bem no lá, e esquecer de aproveitar e vivenciar a caminhada até esse lá, principalmente sem prestar atenção aos detalhes e em quem está do nosso lado.
Trecho da crônica
Assim também revisito o texto, em formato de lista, que escrevi dentro do avião, com os (vários) propósitos da mudança de país (como você já deve ter percebido, não abro mão das listas).
Avancei o primeiro ano aqui na Itália e a “ânsia do propósito” reapareceu para mim semana passada.
Embora o saldo desse primeiro ciclo tenha sido mais positivo do que negativo (como escrevi na edição #31), aquela sensação(zinha) de não pertencimento no país ainda existe. Assim como vem junto no pacote a sensação(zinha) de pressa para resolver isso. Sigo, portanto, buscando controlar o incontrolável: ter respostas rápidas, mesmo consciente da necessidade de aguardar o tempo certo das coisas.
Falo de uma situação privilegiada, reconheço. A imigração foi uma escolha familiar, em conjunto, e seguiu os trâmites legais que favorecem uma mudança bem mais tranquila. Conheci algumas pessoas que não tiveram a mesma sorte, passaram por dificuldades nos processos mais burocráticos da mudança, mas conseguiram e seguem vivendo, aprendendo.
Um ano depois, recebi o primeiro convite (espontaneamente) de uma italiana daqui de Arezzo para ir ao parque Giotto, onde as crianças adoram brincar. Até então, eu tomava a iniciativa de convidar as mães da turma da escola, com o objetivo de me integrar, socializar e treinar minha comunicação com o idioma.
Esse episódio recente, inesperado, me mostrou mais uma vez que as coisas acontecem no seu próprio tempo (piano piano), mas alguém sempre precisa dar o primeiro passo.
Pequenos (grandes) presentes surgindo na minha rotina.
E o propósito para 2025, Camila?
Ainda vou fazer a lista. A única certeza é que desta vez será simples e bem objetiva, como deve(ria) ser a vida, né?
🌱 Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
O papai vai fazer mandioca hoje!
O que é mandioca?
(silêncio…)
Você não se lembra, Marina? A gente comia bastante no Brasil. Seu pai fazia churrasco sempre.
Não.
Iiii mamãe, eu acho que a Marina vai ter que comer mais comida “em português” pra não esquecer, né?
É...
📚 Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
Cheguei ao aprendizado das preposições. E as regras, meus caros, são muitas! Este vídeo explica sobre o uso das preposições A, IN e DA para situações de espaço e tempo. Achei bem didático!
🔎 Descobertas da semana
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você.
Acesso não é sinônimo de sucesso. Não faço a menor ideia de como cheguei na news da
, mas gostei de+mais dos conteúdos dela.A teoria conspiratória da “internet morta” parece cada vez mais real. Um relatório de 2022 da Europol apontou que até 90% do conteúdo online poderá ser sinteticamente gerado até 2026. Estamos tão perto de 2026, né? Veremos…
Deskilling: uma ameaça da IA à sua saúde profissional. Por que não podemos delegar todos os processos de trabalho às máquinas? Leia até o final para saber “o porquê” e “como” resolver isso.
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Tem algo que só você pode trazer para este mundo. Uma arte para ver naqueles dias em que nos esquecemos do nosso propósito aqui.
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Camila Tardin
Obrigada pela menção! Como uma humilde escritora de newslwetter, acho incrível quando as pessoas acidentalmente acabam caindo em algum conteúdo - e gostando. Dá uma sensação boa de que o propósito tá se cumprindo :)
Gostei da nova reflexão e me lembro da gente conversando sobre o tema num almoço, quando você falou que tinha pavor da palavra propósito, que te dava um vazio cada vez que era cobrada ou alguém falava que era necessário ter propósito na vida.
Senti uma saudade gostosa dos nossos almoços, mas tenho ainda a lembrança de você viajando tão longe para me ver em Florença! Isso é inesquecível.