Sempre gostei de férias e viagens entre os meses de setembro e outubro. Me organizava para tirá-las nesse período porque era o jeito de escapar do tempo quente e seco dessa época do ano em Mato Grosso. Foi assim que conheci o outono em algumas viagens para outros países e me apaixonei pelo marrom e laranja tão predominantes nessa estação.
Estava satisfeita com tamanha beleza das folhas caídas no chão dos parques e nas calçadas, como via nos filmes e consegui presenciar de perto. Realmente é um período lindíssimo para conhecer fora do Brasil, mas descobri que o início da primavera na Toscana é uma das coisas mais lindas que já vi.
No calendário, a primavera aqui começou oficialmente dia 21 de março, mas antes dessa data já vinha dando alguns sinais, colorindo o inverno cinzento e chuvoso que, segundo alguns moradores, foi mais fraco e atípico em relação aos anos anteriores.
Pisquei os olhos e as árvores que fazem parte da minha rotina no percurso de casa até a escola das crianças, parques e centro da cidade ganharam vida e cores. Migraram dos galhos pelados e secos para as folhas verdes claras e aconchegantes. Algumas com flores amarelas, rosas, roxas e brancas, de diferentes tipos e tamanhos.
Vivenciar essa transformação me lembrou como eu identificava as mudanças das estações em Cuiabá: pela época das frutas regionais, como o pequi, o caju e a manga; pelas chuvas mais intensas no verão; pelos ciclos do plantio e da colheita da soja; pelo frio com duração máxima de três dias no tímido inverno entre junho e julho; pelos ipês floridos na primavera escaldante de 40 graus. São essas as minhas referências da cidade onde nasci, cresci e vivi 39 anos, onde o sol é literalmente o “astro-rei” de janeiro a dezembro.
Por aqui em Arezzo, com a transição das estações tão bem definidas, percebi não só a beleza do movimento da natureza, mas também a rapidez com que as pessoas mudam de roupa e de humor, assim como o comércio e as prateleiras dos supermercados se adaptam numa velocidade surpreendente para atender às demandas de consumo dos clientes.
Será um olhar característico de primeiro ano de imigrante?
Como posso manter vivo esse encantamento das mudanças das estações por mais tempo onde quer que eu esteja?
Conversei com uma amiga sobre isso. É como se eu tivesse aberto um terceiro olho para os ciclos da natureza. Talvez também seja uma forma que encontrei de preencher a sensação de não pertencimento e alguns vazios da adaptação, porque eles ainda existem e levam tempo (eu sei), como o tempo da primavera, verão, outono e inverno.
Torço para que minha admiração por essas transformações em cada fase do ano não desapareçam ou caiam naquele lugar de costume, como acontece quando temos tudo aquilo que gostamos disponível, por perto e de fácil acesso.
Escrevo para me lembrar amanhã do olhar de estrangeira que tenho hoje. De preferência que ele continue vivo, atento, curioso e paciente. Assim desejo, assim me comprometo.
Algumas transformações que colecionei de Arezzo.
→ O primeiro pé de caqui que vi mudar de pertinho.
→ O parquinho da escola.
→ As mesmas árvores migrando do laranja para o verde.
→ E algumas flores e folhas que colecionei no caminho.
🌱 Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
A pergunta da semana feita no carro enquanto eu dirigia:
Mamãe, os anjos que estão aqui dentro de nós… como que eles bebem água?
Marina
Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
Uma boa notícia: passei na primeira prova de “italiano di base” (básico) na escola para estrangeiros! Estou saindo do nível A1 para A2. Feliz!
Uma má notícia: ainda não tem turma para o único horário que posso fazer o curso presencial, ou seja, às 8h30 da manhã daqui - quando aproveito a madrugada no Brasil para estudar e depois trabalhar na parte da tarde.
Aguardando uma resposta da escola. Por enquanto, de volta ao estudo online…
Aleatoriedade
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