Por trás das câmeras
Edição #15 | Sobre os bastidores do filme Elementos e a conexão com os imigrantes.
Alguns filmes parecem que são feitos para assistirmos no tempo certo. É quando eles fazem mais sentido no período ou fase em que nos encontramos. O filme "Elementos" da Diseny e Pixar, que assisti no último fim de semana, é um desses exemplos.
A animação foi lançada em junho de 2023 e cá estou eu, nove meses depois, escrevendo sobre ela, porque me impactou profundamente.
Em casa as crianças já tinham visto o filme, provavelmente quando eu estava trabalhando ou mergulhada em outro compromisso. Cheguei a ver o trailer, mas o lançamento aconteceu bem próximo do meu período pré-mudança de país e eu não tinha cabeça nenhuma para assistir qualquer filme.
Bem resumidamente, sem dar tanto spoiler para quem não assistiu ainda, a história mostra uma sociedade em que quatro elementos da natureza (ar, fogo, terra e água) precisam conviver juntos na cidade chamada Elemento. Os quatro têm características, forças e fraquezas distintas. Enquanto vivem em sociedade, precisam lidar e aprender a conviver com suas diferenças.
Os protagonistas são a Ember, uma garota do elemento fogo, e o Wade, um rapaz do elemento água, que se conhecem a partir de um problema e, ao tentar resolvê-lo, começam uma história inesperada e muito bonita de amizade e amor.
Terminei de assistir e logo fui fisgada pelo mini-documentário sobre os bastidores da produção, em que foram apresentados detalhes da história por trás da animação.
O diretor, Peter Sohn, conta de onde vieram as inspirações para desenvolver o roteiro. Ele diz que não, mas para mim a narrativa tem fortes traços de biografia. E foi justamente isso o que me encantou: saber mais sobre o porquê do filme e conhecer a vida e carreira do cineasta e roteirista.
A cidade Elemento foi inspirada em Nova York, local onde o Peter cresceu depois que seus pais mudaram da Coreia do Sul para os Estados Unidos na década de 60 - assim como a personagem Ember é filha de imigrantes que saíram da cidade do fogo (Fireland) para a cidade Elemento.
Em uma de suas entrevistas para The Official Disney Fan Club, Peter disse:
Eu tentei captar a ideia de pessoas de outros lugares que se reúnem para criar uma vida para elas mesmas. Esse foi o gancho emocional para mim, o fato de meus pais terem vindo de outro lugar para criar uma vida melhor para nós.
Em outra entrevista, Peter relatou que há mais de 100 imigrantes de primeira ou segunda geração na Pixar que se reuniram para conversar sobre suas experiências, o que trouxe ainda mais autenticidade à narrativa.
Peter também se inspirou na antiga vendinha do pai, localizada no coração do bairro do Bronx, e na escolha de trabalhar com animação em vez de tocar o negócio da família. Uma decisão que exigiu dele um esforço de convencimento aos pais, já que não consideravam a arte uma “carreira prática” e de sobrevivência.
O mesmo acontece com a garota Ember que tem um enorme talento (escondido) para as artes e pouca habilidade (e paciência) para substituir o pai no negócio da família. A expectativa em cima dela pela sucessão familiar é alta.
Uma das pessoas entrevistadas no mini-documentário traduz o que é ser imigrante em Nova York e a beleza da diversidade cultural.
Imigrantes sempre dão vida nova a uma cultura.
Dão uma mexida nas coisas, de um jeito positivo.
Eles vêm com ambição, com criatividade. Eles vêm com soluções.
Sei que, na prática, as afirmações acima dependerão de uma série de fatores e contextos (políticos, econômicos e culturais) de uma região e país. Mas quem passou ou está passando por mudança vai se identificar em vários trechos da animação.
Como não me conectar e não me emocionar com essa história por trás das câmeras?
Um filme com tantos elementos do nosso cotidiano, além da água, terra, fogo e ar. Fala sobre mudança, família, adaptação, comunicação, diversidade cultural, talento e sonhos.
Só recomendo: assista ao desenho e, logo em seguida, ao mini-documentário.
Abraço e feliz Páscoa!
P.S. Em "Aleatoriedade" (abaixo) fiz uma mini-curadoria de notícias sobre o filme e entrevistas com o diretor para quem quer conhecer mais sobre Elementos.
🌱 Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
Mamãe, quanto tempo você levou para ficar adulta?
Uma pergunta tão simples e, ao mesmo tempo, tão complexa. Cheia de possibilidades de respostas…
Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
A descoberta da semana foi esse site da wordwall.net/it para quem quer aprender o idioma italiano brincando também. Tem vários jogos de palavras e quiz.
Aleatoriedade
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você.
Algumas informações extras que encontrei sobre o filme Elementos.
(link) ‘Elemental’ da Pixar é o culminar de experiências de imigrantes.
(link) Elementos: diretor fala sobre a criação do longa animado da Disney e Pixar.
(link) Os filmes da Pixar nascem das experiências de vida e reflexões de nossos cineastas.
(link) Elementos: as lições de vida que o novo filme da Pixar pode inspirar.
(link) Peter Sohn, diretor da Pixar, a VEJA: ‘A diversidade é uma coisa linda’.