Notas do fim do verão
Edição #35 | Marcado pela "História do novo sobrenome", o segundo volume da tetralogia napolitana de Elena Ferrante.

Sol. Calor. Praia. Praças. Parques. Piscina. Sorvete. Chá gelado. Melancia. Aperol. Protetor solar. Pele seca. Bronzeada. Estrada. Viagem. Crianças. Alegria. Euforia. Preguiça. Dias longos. Noites curtas. Trabalhos. Leituras. Estudos.
Um conjunto de palavras que resumem bem meu primeiro verão completo e intenso na Itália. Passei no teste das primeiras férias escolares mais longas que já vivi. Haja criatividade, jogo de cintura, disposição e paciência para entreter as crianças de junho a setembro e continuar conciliando o trabalho, produções e, ao mesmo tempo, aproveitar o calor e os passeios antes da chegada do inverno.
O outono (que tanto gosto) deu sinais algumas semanas antes. Noites mais frias, vento fresco durante o dia, as folhas das árvores no chão e chuvas. Voltamos à rotina: levar e buscar as crianças na escola, ajustar os horários de trabalho, de pesquisa, estudos de italiano e leituras.
Permaneço focada em concluir a tetralogia napolitana A amiga genial, da escritora Elena Ferrante, que marcou meu verão aqui (falei sobre na edição #29).
Nas brechas do dia, antes de dormir; entre o bate e volta até a praia; algumas horinhas estiradas em frente à piscina do clube (com um olho no livro e o outro nas crianças), concluí “História do novo sobrenome”, o segundo volume da tetralogia que consegue ser tão bom, talvez melhor ainda, do que o primeiro livro.
É o período da juventude e os caminhos de aproximação e de afastamento entre as amigas Lila e Lenu. É quando a narradora Lenu parece perder parte de sua inocência, tanto na vida pessoal quanto na relação de amizade com Lila. Quase ao final da narrativa, Lenu decide cuidar+da+própria+vida com a mesma determinação que tem nos estudos, como deixa explícito em alguns trechos depois dos episódios vivenciados em Ischia (quem já leu entenderá o porquê).
Como consequência desse “apropriar-se de si”, acontece algo que Lenu não esperava, embora desejasse desde a infância (assim como a amiga Lila): a publicação de seu primeiro livro.
Mal tive tempo de digerir o segundo volume e já parti para o terceiro, “História de quem foge e de quem fica”, na esperança de terminá-lo esta semana, mas não acredito que seja possível.
Por que a pressa, Camila? Porque nessa tetralogia adquiri aquele “vício” semelhante ao de quem não perde uma série nos streaming. Embora desse “mal” de maratonar séries, acho que consegui escapar (por enquanto). Nem começo a vê-las, porque ainda não tenho maturidade suficiente para assisti-las aos poucos, a conta gotas. Quem tem?
Aliás, para quem não sabe ainda, neste mês de setembro lançaram a quarta temporada da série Amiga Genial. Estou me controlando para não vê-la antes de concluir a leitura da tetralogia. A BBC Brasil trouxe um matéria bem bacana sobre a nova temporada.
A Amiga Genial foi a primeira série em língua não inglesa a estrear na HBO. A série não é falada apenas em italiano – existem grandes trechos em dialeto napolitano, fazendo com que os próprios espectadores da Itália lancem mão das legendas. A dualidade dos idiomas é importante. O napolitano é a língua do bairro e o italiano representa a vida além das suas fronteiras. É claro que essas mudanças sutis passam despercebidas para muitos espectadores, especialmente fora da Itália. Mas o diretor se recusou a aparar as arestas da obra de Ferrante – uma decisão que garantiu o sucesso da adaptação."Nunca, em nenhum momento, usei qualquer tipo de truque para facilitar as coisas para os espectadores", afirma Costanzo - criador da série e um dos diretores.
Trecho da matéria na BBC Brasil.
Na eterna fila de leituras também entrou o livro “Para além das margens - A Itália de Elena Ferrante”, de Isabela Discacciati. A autora, que também mora na Itália, gentilmente me enviou um exemplar pelo correio.
Isabela conta sua viagem pelos locais onde estão os cenários da tetralogia de Elena Ferrante, incluindo as cidades de Nápoles, Ischia, Pisa e Florença. Faz uma conexão entre esses lugares e as experiências das personagens Lila e Lenu, ao mesmo tempo em que apresenta aspectos culturais, históricos e mitológicos dessas regiões. Estou bem curiosa para começar!
O verão acabou oficialmente no domingo (22 de setembro). E, claro, já sinto saudades da companhia de Lenu e Lila, mesmo com toda a ambiguidade da amizade entre as duas. A escrita de Ferrante é hipnotizante e certamente continuará ressoando em mim até mesmo nas próximas estações.
🌱 Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
A percepção do verão, segundo Marina:
Mamãe, o mais importante na vida é a família e o protetor solar, né?
📚 Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
Comecei a buscar podcasts italianos que falam sobre empreendedorismo. A descoberta da semana foi esta. E se você souber de algum, me conta também respondendo este e-mail.
🔎 Descobertas da semana
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você.
Comece sua história. Uma aula interessante com a escritora,
da .Quem é você quando ninguém está olhando? A tal da “autenticidade”. Tenho pensado muito nela.
Quando tudo é conteúdo, o que é Conteúdo? Texto interessante sobre o que as boas práticas do jornalismo têm a nos ensinar na era da creator economy.
IA na vida dos brasileiros. Mais uma pesquisa sobre o tema para continuarmos acompanhando os impactos da inteligência artificial.
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Até a próxima ;)
Abraço!
Camila Tardin
Camila, quando vc terminar a tetralogia terá modo de revive-lá um pouco lendo o meu, outros maravilhosos na mesma temática (o da Fabiane Secches, por exemplo) e outras tantas indicações da própria Ferrante. Prepare-se para um longo outono/inverno.