A professora me chama no portão e diz:
Sua filha não quer falar em italiano. Ela fala pouco.
Entrou na escola em novembro de 2023. Estamos em março de 2024. Já se passaram quatro meses.
Volto para casa, preocupada. Tento entender o porquê, elaboro mentalmente mil e uma justificativas e alternativas de soluções.
Lembro o que escutei sobre o aprendizado de idiomas na infância:
Só tem 4 anos? Ihh vai falar rapidinho. Criança pega rápido!
Rápido quanto? O que é rápido? Tem que ser rápido? Acabamos de chegar…
Ela fala com as bonecas, com o irmão, com o pai, com a Maya, mas não quer falar na escola (ainda) por quê?
Timidez?, penso.
Teimosia?, julgo.
Corro para o Google e pergunto:
Quanto tempo leva para uma criança de quatro anos de idade aprender um novo idioma?
A primeira matéria que aparece: As vantagens de cada idade para aprender um novo idioma (link).
É de 2018, ok estamos em 2024, mas é da BBC né? Clico nela.
“De um modo geral, cada fase da vida nos oferece diferentes vantagens no aprendizado de línguas. Os bebês têm um ouvido melhor para sons diferentes; as crianças conseguem assimilar sotaques nativos com uma velocidade surpreendente. Já os adultos têm uma capacidade de atenção maior e habilidades cruciais, como o grau de instrução, que permitem expandir continuamente o vocabulário”, diz uma parte do texto.
No geral, a notícia traz informações científicas de como a nossa relação com os idiomas evolui ao longo da vida “e pode encorajar quem começa a estudar mais tarde” - opa, essa última frase é para mim! Leio a matéria até o final e gosto do que vejo.
Corro para o ChatGPT gratuito e faço a mesma pergunta. A resposta vem bem sucinta. Será que errei os “prompts”?
O tempo que leva para uma criança de quatro anos aprender um novo idioma pode variar bastante, dependendo de vários fatores, como exposição ao idioma, ambiente familiar, motivação e habilidades individuais. Em geral, as crianças nessa faixa etária têm uma capacidade impressionante de absorver novos idiomas, especialmente se forem expostas a ele de forma consistente e natural, como por meio de interações sociais, brincadeiras e atividades educativas. No entanto, é importante ter em mente que o processo de aprendizado de um novo idioma é gradual e pode levar vários anos para que a criança atinja proficiência.
Satisfeita com a última frase, obrigada Chat.
Paro de pesquisar. Corro até a Marina e pergunto.
Marina, você conversa em italiano na escola?
Hum… Eu ainda não sei falar tudo.
Mas você não precisa saber tudo ainda. Fala só aquilo que já aprendeu e mistura com o nosso português, tipo uma salada de fruta sabe? Mamãe está fazendo isso. Seu irmão faz isso. Todos nós estamos aprendendo juntos.
Chega o grande dia: primeiro aniversário de uma colega da escola. Agora vejo se ela fala ou não.
Marina brinca muito e fala pouquíssimo na festa. Está eufórica com os brinquedos! Está feliz e é isso o que importa agora, penso.
E eu? Busco me aproximar das mães. Ora entendo o que dizem, ora não. Falo o que dou conta, lembro das aulas, das frases, dos diálogos construídos na classe, dos vídeos, dos desenhos animados, dos livros, das gafes cometidas, da salada de fruta, etc.
Algumas frases saem bem, outras nem tanto. Dou uma voltinha e aproveito para perguntar ao ChatGPT: como falar (tal coisa) em italiano? Volto para conversar com as mães novamente. Os interlocutores da festa também me ajudam com palavras novas e adivinham o que tento dizer.
Fico naquele vai e vem da magia da comunicação e das conexões com o hemisfério esquerdo do meu cérebro, o especialista em linguagem.
Aprendo a dizer “ano passado”: l'anno scorso. Para não me esquecer, penso no rio que escorre.
Scorso parece com escorrer, penso. O ano passa e escorre como o rio, scorso, scorso, scorso. Pronto, acho que assimilei bem essa.
Uma semana depois da festa, percebo a primavera chegando por aqui. Oficialmente começará dia 21 de março, mas já têm árvores florescendo mesmo com o frio do inverno variando entre 6 e 15 graus ao longo do dia.
Junto com essa percepção, a professora do meu curso de italiano para estrangeiros avisa que quer falar comigo e com a colega argentina no final da aula. O que será?
Recebo um recado que eu não esperava:
Vocês vão mudar de turma no próximo mês, ok?
Chego em casa, feliz da vida, com a minha primeira “promoção” no idioma italiano - anunciada no mesmo dia em que observei a proximidade da primavera (um bom sinal, creio). E lembro que antes de tudo isso, é claro, precisei me convencer de que daria conta de aprender outra língua (do zero) nessa vida adulta, porque nem a ciência conseguia me convencer.
No livro “Aqui dentro - Guia para descobrir o cérebro” (para adultos e crianças), um dos poucos em papel que trouxe na mala, as pesquisadoras Isabel Minhós Martins, Maria Manuel Pedrosa e Madalena Matoso trazem no capítulo sobre aprendizagem uma definição que resolvi carregar para a vida toda:
A missão principal do cérebro é aprender mais.
E a curiosidade, meus caros, é o melhor estímulo para aprender (qualquer coisa)!
“Quando sentimos curiosidade acerca de um assunto, torna-se muito mais fácil aprender sobre ele”.
“Todas as perguntas terão uma resposta? A curiosidade tem a certeza de que sim, de que todas as perguntas têm uma resposta, caso contrário não entraria em ação”.
(Trechos do livro)
Marina ainda vai “parlar” pelos cotovelos, confio nisso. Até lá, acredito no tempo de cada um e, de preferência, que não seja atropelado pela pressa de ninguém.

Colheita de palavras
Um espaço onde as palavras das crianças vão morar.
Mamãe, como você está se sentindo hoje no trabalho?
Estou bem. Por que Pietro?
Eu fiquei pensando que, quando eu trabalhar, quero ser como o Tony Stark (o Homem de Ferro) pra construir armaduras de ferro e salvar o mundo.
Crianças…
Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
Aprendizados da semana por aqui são os vocabulários para os vários tipos de roupas. Compartilho alguns vídeos que auxiliam na compreensão e pronúncia.
Aleatoriedade
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você.
Tudo o que a gente cuida cresce (link). Algumas dicas para quem quer começar a produzir conteúdos no LinkedIn. Antes de pensar em “o que” escrever, organize as informações do seu perfil.
Brasil está entre os 4 países que mais usam o ChatGPT (link). Os primeiros lugares ficaram com: Estados Unidos (19,78%), Índia (11,62%) e Indonésia (6,17%). Um detalhe que achei curioso nessa notícia: os homens representam 67,5% dos usuários do ChatGPT e as principais visitas foram feitas por pessoas de 25 a 34 anos.
O Futuro das Coisas (link) traz um espiral do pensamento imaginativo, crítico e provocativo interessante nesse post.
✉ → ARQUIVO ONDE A PALAVRA MORA (AQUI) das edições anteriores.
Você pode conversar comigo respondendo este e-mail ou me encontrar no:
No dia que a Marina destravar, ninguém vai aguentar... vão pedir para ela parar de falar. Como criança pequena, ela só está preparando o terreno para armar as brincadeiras.
Adorei esta edição 🖤