Curiosidades da Itália
Edição #25 | Uma breve curadoria do que (já) percebi sobre a Itália e os italianos.
Estou perto de completar um ano de “vida” na Itália. Até esse dia chegar oficialmente (em agosto) colecionei curiosidades vivenciadas e percebidas por aqui.
Hoje trago algumas delas, primeiro para eu me lembrar quando reler esta newsletter nos próximos anos, e segundo porque foi uma das perguntas que recebi na edição #21. Então, achei interessante compartilhar com os assinantes também.
Lembrando que as informações abaixo contém o meu ponto de vista morando em Arezzo, uma cidade relativamente pequena, de aproximadamente 100 mil habitantes. Não é regra generalizada, apenas a percepção que tive até agora vivendo aqui.
Vamos lá?
Trabalho
Quando digo que sou jornalista, as pessoas se surpreendem. Me olham de um jeito diferente, como se eu tivesse feito "medicina". Já recebi até parabéns pela minha formação: “Complimenti!", "Brava!" (parabéns!). Acho isso bem curioso. Quando tento explicar o que faço, boa parte não entende como consigo trabalhar online daqui para o Brasil.
A maioria dos restaurantes tem funcionários estrangeiros, especialmente de países como Bangladesh, Paquistão e Romênia. Sem essa turma, meus caros, não existiria mais restaurante na Itália, porque dificilmente você verá a garotada mais jovem e italiana trabalhando na cozinha - o coração de todo restaurante.
No pequeno círculo social que tive contato e convívio até o momento, as pessoas não fizeram graduação na universidade e nem pós-graduação. Preferiram sair do ensino médio direto para o trabalho em fábrica e/ou comércio. Parece que não sentem a mesma pressão, ou necessidade, nossa pela conquista do diploma. Não sei se essa percepção é específica da cidade onde estou ou se é algo cultural no país.
Festas infantis
Já participei de quatro festas de aniversário infantis e, definitivamente, os pais não estão preocupados em tirar fotos das crianças entre os amigos. Para mim, isso ainda é um pouco estranho, porque eu sempre fiz fotos nos aniversários do Brasil. Então, fico extremamente constrangida de pegar o celular e fotografar alguns momentos entre as crianças. Estou convencida de que a vida social dos meus filhos com os amigos fora da escola terá poucos registros virtuais.
O cardápio das festas é interessante. Praticamente não tem salgados fritos. Tudo fica em uma mesa e as pessoas se servem à vontade. São mini pizzas, torradinhas com patê, pão com salame e mortadela, mini croissant e algumas tortas caseiras. Nada de grandes decorações na mesa do bolo, festas temáticas, música e nem animadoras contratadas para entreter as crianças. Elas brincam bastante ao ar livre, no parquinho e com os brinquedos da casa do aniversariante ou no local específico de festa infantil.
Escolas
Nas escolas quase não temos registros fotográficos ou vídeos das crianças participando de alguma atividade. Para saber o que acontece nas atividades extracurriculares, por exemplo, a estratégia é estimular o diálogo e sempre perguntar às crianças como foi o evento.
Datas comemorativas, como Dia das Mães, dos Pais, Natal, etc, não têm apresentações para os familiares.
Passeios da turma na cidade ou no campo fazem parte da grade curricular. O interessante é o custo extremamente baixo desses passeios. Podemos comparar com um valor simbólico semelhante ao preço de uma ou duas coca-colas.
É mais fácil conseguir uma vaga para as crianças na escola pública do que alugar uma casa. Pode ter certeza de que elas não ficarão fora da escola (jamais), mas sem casa é bem provável que sim (brincadeira, é só para enfatizar a dificuldade de alugar residência por aqui).
Até hoje não entendo direito os avisos de greve. A gente só sabe se vai ter aula ou não quando chega na escola. Por enquanto, só um dos comunicados se confirmou presencialmente e as crianças voltaram para casa.
A leitura é muito estimulada por aqui, até entre as crianças que ainda estão no jardim de infância. Toda quarta-feira, por exemplo, a Marina traz para casa um livro escolhido por ela na biblioteca da escola e devolve na semana seguinte. O objetivo é estimular a leitura dos pais com os filhos.
Moradia
Alugar casa, como antecipei acima, é um super desafio! Opções de venda existem aos montes, mas aluguel não. Para locar um imóvel não é suficiente ter dinheiro, cidadania italiana, emprego registrado por tempo indeterminado, indicações e documentos em dia. A demanda é grande e a oferta é baixa. É necessário fé e sorte! E se você tem filhos pequenos, a dificuldade será triplicada. Você não escolhe a casa, é ela que te escolhe. Se a oportunidade aparecer, agarre-a com os dentes! Depois de quase quatro meses de tentativas, conseguimos encontrar um lugar bom para morar.
Comércio
É incrível como o comércio, especialmente os supermercados, muda as prateleiras com os produtos das estações do ano. Agora com a proximidade do verão, por exemplo, as prateleiras estão cheias de produtos anti mosquitos, artigos de praia, como boias, protetor solar, kits para piqueniques, acampamentos, etc. Pouco antes do início da primavera, por exemplo, o foco eram os artigos de jardinagem.
Trânsito
Atravessar de carro nas rotatórias pode ser uma aventura! Nem sempre sabemos para onde o veículo do nosso lado vai virar. Em muitos casos, somos surpreendidos com uma entrada enviesada e inesperada na nossa frente. Sendo assim, já aprendi que nas rotatórias o cuidado deve ser redobrado.
A seta do carro é uma ferramenta em desuso, parece um simples enfeite dentro do veículo.
As multas de trânsito são pesadas! Já levei duas. Uma por entrar na zona ZTL (localizada no centro histórico e onde somente moradores podem passar) e a outra porque passei no guichê errado do pedágio na autoestrada. Usem o Waze nas cidades, ele avisa melhor sobre os radares, e prestem atenção nos símbolos dos pedágios.
Os italianos parecem não se importar muito em trocar de carro. Permanecem com o mesmo por muiiiitos anos. Além disso, é bem comum estacionarem fora dos limites das vaga nos estacionamentos.
Vida adulta
Na parte burocrática da vida adulta não tem como chegar em um órgão público ou de serviço privado para solicitar uma demanda ou resolver um determinado problema. Tudo precisa ser agendado com antecedência. Às vezes, dependendo do órgão e/ou empresa, para pedir apenas uma informação, precisamos marcar por e-mail ou telefone. É o agendamento do agendamento. Comentei sobre isso em uma das aulas do curso de italiano e a professora disse que a burocracia aumentou depois de 2020.
Comunicação
O e-mail funciona super bem por aqui. Toda a parte de documentação e agendamentos das escolas e órgãos públicos é feita por e-mail. São rápidos nas respostas - mais até do que pelo whatsapp.
As marcas nacionais estampam nas embalagens a bandeira italiana, destacando frases do tipo: "produzido na Itália" ou "100% italiano". Existe um orgulho em demonstrar que aquele produto é legitimamente italiano.
Não vejo blogueiros nos restaurantes. Não vejo muita gente tirando fotos ou fazendo vídeos das comidas para publicar nas redes sociais.
Os panfletos promocionais funcionam bem por aqui, assim como os jornais impressos compartilhados nas mesas dos cafés.
Vejo poucos outdoors nas ruas. E os poucos que têm são de tamanhos pequenos ou móveis (como nas fotos abaixo). Existe, inclusive, uma lei delimitando os limites de tamanho dos anúncios, cujo objetivo é evitar a poluição visual.
Clima
O frio não é um impeditivo para dar uma volta na rua depois da janta. Aprendi a “curtir” o inverno em vez de me trancar em casa embaixo do edredom.
O pouco sol que aparece no inverno é um convite para sair de casa. Mesmo gelado, a gente precisa aproveitar a luz lá fora.
É muito comum ver um grupo de senhoras ou senhores se encontrando num café de manhã ou no meio da tarde. Acho isso bem interessante!
Não tem como não se encantar com a mudança das estações (falei sobre isso na edição #18).
Lazer e idioma
Os italianos adoram tomar um caféZINHO. É sagrado! Enfatizo o “zinho” porque a quantidade na xícara é o equivalente a um gole só. Além disso, é forte. Se quiser mais café, peça o capuccino.
"Prego" e Allora" são as palavras que mais escuto nos diálogos entre os italianos. Aqui e aqui tem explicações dos variados significados e as formas de utilizá-las.
Quando falo que sou brasileira, inevitavelmente alguém comenta e pergunta sobre futebol ou muda o idioma para o inglês, como se fosse muito natural (ou quase obrigatório) todo estrangeiro saber inglês - comentei sobre isso na edição #22.
Bom, por enquanto é isso!
O que achou dessas curiosidades? Já conhecia alguma?
📚 Piano piano
“Imparare piano piano” (Aprender devagar, no seu tempo, aos poucos).
Na sexta-feira "maratonei" a minissérie italiana A vida mentirosa dos adultos, na Netflix, baseada na obra homônima da escritora Elena Ferrante. Meu objetivo era explorar a escuta do idioma, mas, para ser bem sincera, tive bastante dificuldade de entender o sotaque napolitano no filme. Fora isso, gostei da trama.
🔎 Descobertas da semana
Li, assisti, gostei, me inspirei, salvei e compartilho aqui com você
→ Um bate-papo interessante no podcast
sobre A mercantilização da identidade — com Issaaf Karhawi.→ Algumas tendências da economia da influência e criação de conteúdo trazidas pela agência Ogilvy de Nova York.